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sexta-feira, 29 de maio de 2015

Três Conselhos

Um casal de jovens recém-casados era muito pobre e vivia de favores num sítio do interior. Um dia, o marido fez a seguinte proposta à esposa:
— Querida, vou sair de casa e viajar para bem longe, arrumar um emprego e trabalhar até que tenha condições de voltar e dar-lhe uma vida mais digna e confortável. Não sei quanto tempo ficarei distante de casa. Só lhe peço uma coisa: Espere-me! Enquanto estiver fora, seja-me fiel, que o serei a você.
Assim sendo, o jovem partiu. Andou muitos dias a pé, até que encontrou um fazendeiro que estava precisando de alguém para ajudá-lo em sua fazenda. Ofereceu-se para trabalhar e foi aceito, mas não sem antes propor o seguinte pacto ao seu empregador:
— Patrão, peço-lhe só uma coisa: Deixe-me trabalhar pelo tempo que quiser e, quando achar que devo ir embora, dispensa-me das minhas obrigações. Não quero receber meu salário. Só lhe peço que o coloque na poupança até o dia em que for embora. Quando sair, recebo meu dinheiro e sigo meu caminho.
Tudo combinado, o jovem trabalhou por vinte anos, sem férias nem descanso. Após esse tempo, chegou para o patrão e cobrou-lhe o contrato feito há vinte anos:
— Quero meu dinheiro, pois estou voltando para minha casa.
O patrão, então, disse-lhe:
— Tudo bem, fizemos um acordo e vou cumpri-lo, só que, antes, quero fazer-lhe uma proposta: pode escolher entre receber todo o seu dinheiro ou aceitar três conselhos meus e ir embora. Vá para seu quarto, pense durante a noite e depois me responda.
O rapaz pensou durante dois dias. Procurou o patrão e disse-lhe:
— Quero os três conselhos.
O patrão, então, falou-lhe:
— Primeiro: Nunca tome atalhos em sua vida. Caminhos mais curtos e desconhecidos podem custar sua vida.
— Segundo: Não seja curioso para aquilo que é mal, pois a curiosidade poderá ser-lhe mortal.
— Terceiro: Jamais tome decisões em momentos de ódio e de dor. Poderá arrepender-se e ser tarde demais.
Após dar-lhe os três conselhos, o patrão disse-lhe:
— Rapaz, aqui tem três pães, dois para comer durante a viagem e o terceiro para comer com sua esposa, quando chegar a casa.
Assim, o rapaz partiu, deixando a fazenda, depois de vinte anos longe de casa e da esposa que tanto amava. Andou durante o primeiro dia e encontrou um viajante, que lhe perguntou:
— Para onde vai?
Respondeu-lhe:
— Para um lugar muito distante, que fica a mais de vinte dias de caminhada por esta estrada.
O viajante aconselhou-o:
— Este caminho é muito longo, conheço um atalho que vai encurtar bastante sua viagem.
O rapaz ficou contente e começou a seguir pelo atalho, quando se lembrou do primeiro conselho do seu patrão. Então, voltou e seguiu seu caminho. Dias depois, soube que aquilo era uma emboscada.
Após alguns dias de viagem, achou uma pensão na beira da estrada, onde se hospedou. De madrugada, acordou assustado com um grito estarrecedor. Levantou-se, rapidamente, sem saber de onde vinham os gritos e do que se tratava. Recordou-se do segundo conselho. Voltou, deitou-se e dormiu.
Ao amanhecer, o dono da hospedagem perguntou-lhe se não havia ouvido um grito e ele disse-lhe que sim.
O hospedeiro questionou-lhe:
— Não ficou curioso?
— Não!
O hospedeiro falou-lhe:
— É o único que vai sair vivo daqui, pois sou louco e grito durante a noite. Quando o hóspede sai, eu o mato.
E mostrou-lhe vários cadáveres.
O rapaz seguiu sua longa caminhada, ansioso por chegar a sua casa.
Depois de muitos dias e muitas noites de caminhada, já ao entardecer, viu, entre as árvores, a fumaça saindo da chaminé de sua casinha. Andou um pouco mais e logo notou, entre os arbustos, a silhueta da sua esposa. O dia estava escurecendo, mas viu que sua mulher não estava só. Andou mais um pouco e percebeu que havia um homem entre suas pernas, a quem estava acariciando os cabelos.
Ao presenciar aquela cena, seu coração derreteu-se de ódio e amargura e decidiu ir ao encontro dos dois para matá-los sem piedade. Respirou fundo e apressou os passos. Lembrou-se, então, do terceiro conselho. Parou, refletiu e resolveu dormir aquela noite ali mesmo.
No dia seguinte, tomaria uma decisão. Ao amanhecer, já com a cabeça fria, pensou:
— Não vou matar minha esposa e nem seu amante. Voltarei para meu patrão e lhe pedirei que me aceite de volta. Antes, quero dizer à minha mulher que fui fiel a ela.
Dirigiu-se à porta da casa e bateu. Quando sua esposa apareceu, reconheceu o marido, atirou-se no seu pescoço e abraçou-o afetuosamente. Tentou afastá-la, mas não conseguiu. Com lágrimas nos olhos, disse-lhe:
— Fui-lhe fiel e você me traiu!
Ela, espantada, respondeu-lhe:
— Como?! Não o traí muito pelo contrário. Esperei-o durante esses vinte anos!
Ele perguntou-lhe:
— E aquele homem a quem estava acariciando?
Ela disse-lhe:
— É nosso filho! Quando foi embora, descobri que estava grávida e, hoje, ele está com vinte anos de idade.
Então ele entrou, conheceu seu filho, abraçou-o e contou-lhes toda a sua história, enquanto a esposa preparava-lhes o café. Sentaram-se para tomá-lo e comeram o último pão. Após a oração de agradecimento e lágrimas de emoção, ele abriu o pão. Ao parti-lo, ali estava todo o seu dinheiro!

(desconheço autoria)

quarta-feira, 27 de maio de 2015

A VERDADE

Certa vez um sultão sonhou que havia perdido todos os dentes. Ele acordou assustado e mandou chamar um sábio para que interpretasse o sonho.

- Que desgraça, senhor! - exclamou o sábio. Cada dente caído representa a perda de um parente de vossa majestade!

- Mas que insolente, gritou o sultão. Como se atreve a dizer tal coisa?!

E ele chamou os guardas e mandou que lhe dessem cem chicotadas. Mandou também que chamassem outro sábio, para interpretar o mesmo sonho. E o outro sábio disse:

- Senhor, uma grande felicidade vos está reservada!!! O sonho indica que ireis viver mais que todos os vossos parentes!

A fisionomia do sultão se iluminou-se e ele mandou dar cem moedas ao sábio.

Quando este saía do palácio um cortesão perguntou:
- Como é possível? A interpretação que você fez foi a mesma do seu colega.

No entanto ele levou chicotadas e você moedas de ouro! Lembra-se sempre, amigo - respondeu o sábio- tudo depende da maneira de dizer as coisas. E esse é um dos grandes desafios da humanidade.

É daí que vem a felicidade ou a desgraça; a paz ou a guerra. A verdade sempre deve ser dita, não resta a menor dúvida, mas a forma como ela é dita é que faz toda a diferença.

A verdade deve ser comparada a uma pedra preciosa. Se a lançarmos no rosto de alguém, pode ferir, provocando revolta. as se a envolvemos numa delicada embalagem e a oferecermos com ternura, certamente será aceita com facilidade.

(autor desconhecido)

terça-feira, 19 de maio de 2015

A MULHER QUE NÃO ESTUDOU SHAKESPEARE


Enquanto preparava o chá, o Monge contou a seguinte história:

Certa vez, na pequena vila em que morava, na Índia, havia uma mulher que vendia ervas medicinais na rua. Em função de um estranho hábito, ela se tornou conhecida como a mulher chorona. Não importava se chovia ou se fazia sol, a pobre senhora sempre estava chorando.

Um dia, um velho curandeiro que habitava a vila passou por ela, e curioso, perguntou:

- Sempre que passo por aqui, mesmo que seja um belo dia de sol, ou um dia de chuva, vejo a senhora chorando. Qual é o problema?

- Tenho dois filhos, - ela respondeu - Um fabrica sandálias e o outro fabrica guarda-chuvas. Quando faz sol, lembro que ninguém comprará os guarda-chuvas de meu filho, e tenho medo que ele e a família passarão necessidades. Quando chove, penso no meu filho que faz sandálias, e lembro que ninguém comprará nada dele, porque não podem ser usadas na chuva. Então, choro porque tenho medo que ele passará dificuldade para sustentar sua família.

O velho curandeiro sorriu e disse: - Estranho... A senhora deveria ver as coisas corretamente. Veja: nos dias ensolarados, seu filho que faz sandálias venderá muito, e isso é muito bom! Nos dias chuvosos, seu filho que faz guarda-chuvas venderá muito, e isso também é muito bom!

A mulher franziu a testa, como se tivesse visto algo estranho, sorriu surpresa e acenando para o curandeiro, exclamou:
- O senhor tem razão! Nunca havia pensado nisso.
Desde então, todos os dias, a mulher é vista sorrindo feliz por saber que um de seus filhos sempre estará sendo beneficiado pela circunstância"

O Monge não falou mais nada. Apenas serviu-me o chá.

Quando o Monge finalizou, fiquei pensando sobre uma frase atribuída a Shakespeare, que diz que "não há nada bom ou nada mau, mas o pensamento o faz assim". De certa forma, penso que isso é verdade. E também penso que é verdade o que filósofo irlandês Edmund Burke disse, "que para o mal triunfar só é preciso que os bons não façam nada". O mesmo vale para nosso pensamento. Ou seja, para o triunfo do pensamento negativo, basta ignorarmos as coisas positivas.

- A questão final, então, é assumir o controle sobre nossos pensamentos, estimulando aqueles que produzem emoções positivas, eu disse.