Era uma vez um escritor que morava em uma tranquila praia, junto de uma colônia de pescadores. Todas as manhãs ele caminhava à beira do mar para se inspirar, e à tarde ficava em casa escrevendo. Certo dia, caminhando na praia, ele viu um vulto que parecia dançar. Ao chegar perto, ele reparou que se tratava de um jovem que recolhia estrelas-do-mar da areia para, uma por uma, jogá-las novamente de volta ao oceano.
“Por que está fazendo isso?” perguntou o escritor.
“Você não vê?” explicou o jovem “A maré está baixa e o sol está brilhando. Elas irão secar e morrer se ficarem aqui na areia”.
O escritor espantou-se:
“Meu jovem, existem milhares de quilômetros de praias por este mundo afora, e centenas de milhares de estrelas-do-mar espalhadas pela praia. Que diferença faz? Você joga umas poucas de volta ao oceano. A maioria vai perecer de qualquer forma”.
O jovem pegou mais uma estrela na praia, jogou de volta ao oceano e olhou para o escritor:
“Para essa aqui eu fiz a diferença…”
Naquela noite o escritor não conseguiu escrever, sequer dormir. Pela manhã, voltou à praia, procurou o jovem, uniu-se a ele e, juntos, começaram a jogar estrelas-do-mar de volta ao oceano.
Faça diferença na vida de alguém hoje. Uma palavra de estímulo, um pequeno elogio é algo que com certeza vai ser importante.
autor desconhecido
domingo, 30 de dezembro de 2012
Prólogo - O Manual do guerreiro da luz
“Na praia a leste da aldeia existe uma ilha, com um gigantesco templo, cheio de sinos”, disse a mulher.
O menino jamais a vira por ali; reparou que ela vestia roupas estranhas, e tinha um véu cobrindo os cabelos.
“Você já viu este templo? “ perguntou ela. “Vá lá e me conte o que acha dele”
Seduzido pela beleza da mulher, o menino foi até o lugar indicado. Sentou-se na areia e olhou o horizonte, mas não viu nada além do que estava acostumado a ver: o céu azul que se juntava ao oceano.
Decepcionado, caminhou até um povoado de pescadores vizinho, para perguntar se já haviam escutado falar de uma ilha com um templo.
“Ah, isto foi há muito tempo atrás, no tempo em que os meus bisavós moravam por aqui” - disse um velho pescador. - “Mas houve um terremoto, e a ilha afundou no mar. Entretanto, embora já não possamos mais ver a ilha, ainda conseguimos escutar os sinos do seu templo, quando o mar os faz balançar lá no fundo”.
O menino voltou para a praia, e tentou escutar os sinos. Passou a tarde inteira ali, mas só conseguiu ouvir o ruído das ondas e os gritos das gaivotas.
Quando a noite chegou, seus pais vieram buscá-lo. Mas, na manhã seguinte, e ele voltou para a praia; a imagem da bela mulher não lhe saía da cabeça, e ele não podia acreditar que uma pessoa tão linda pudesse contar mentiras. Se algum dia ela voltasse, poderia dizer que não vira a ilha, mas escutara os sinos do templo, que o movimento da água fazia tocar.
Assim se passaram muitos meses; a mulher não voltou, e o garoto a esqueceu; mas continuava a se lembrar que havia um templo debaixo d’água, e num templo sempre existem riquezas e tesouros. Se escutasse os sinos, o menino teria certeza de que eles falavam a verdade; assim quando ficasse grande, poderia juntar dinheiro suficiente para fazer uma expedição e resgatar o tesouro ali escondido.
Já não se interessava mais pela escola, nem pela sua turma de amigos. Transformou-se no gracejo preferido das outras crianças, que costumavam dizer: “ele não é mais como nós. Prefere ficar olhando o mar, e evita jogar conosco, porque tem medo de perder”.
E todos riam, vendo menino sentado na beira da praia. Embora não conseguisse escutar os velhos sinos do templo, o menino - a cada manhã - ia aprendendo coisas diferentes. Começou a perceber que, de tanto ouvir o ruído das ondas, já não se deixava distrair por elas. Pouco tempo depois, acostumou-se também com os gritos das gaivotas, o zumbido das abelhas, o vento batendo nas folhas das palmeiras.
Seis meses depois de sua primeira conversa com o mulher, o menino já era capaz de não se deixar distrair por nenhum barulho - mas tampouco escutava os sinos do templo afundado.
Outros pescadores vieram falar com ele, e insistiam: “nós ouvimos!”, diziam.
Mas o garoto não conseguia. Algum tempo depois, os pescadores mudaram de conversa: “você está muito preocupado com o barulho dos sinos lá embaixo; deixa isto para lá e volte a brincar com seus amigos. Talvez apenas os pescadores consigam escutá-los”.
Depois de quase um ano, o menino resolveu desistir: “talvez estes homens tenham razão. É melhor crescer, tornar-me pescador, e voltar todas as manhãs para esta praia; então eu ouvirei os sinos.” E pensou também: “talvez isto tudo seja uma lenda, e - com o terremoto - os sinos se tenham quebrado e jamais tornem a tocar. “
Naquela tarde, resolveu voltar para casa. Aproximou-se do oceano, para despedir-se. Olhou mais uma vez a natureza, e - como já que não estava mais preocupado com sinos - pode sorrir com beleza do canto das gaivotas, o barulho do mar, o vento batendo nas folhas das palmeiras. Escutou ao longe a voz de seus amigos brincando, e sentiu-se alegre por saber que podia voltar aos jogos de sua infância. Talvez rissem dele, mas longo esqueceriam o ocorrido, e o aceitariam de volta. O menino estava contente, e - da maneira que só uma criança sabe fazer - agradeceu por estar vivo. Tinha certeza de que não perdera o seu tempo, pois aprendera a contemplar e reverenciar a Natureza.
Então, porque escutava o mar, as gaivotas, o vento, as folhas das palmeiras, e as vozes de seus amigos brincando, ouviu também o primeiro sino. E mais outro, ate' que todos os sinos do templo afundado tocaram, para a sua alegria.
Anos depois - já um homem - ele voltou à aldeia e à praia da sua infância. Não pretendia resgatar nenhum tesouro do fundo do mar; talvez aquilo tudo fosse fruto de sua imaginação infantil, e jamais escutara mesmo os sinos submersos. Mesmo assim, resolveu ir até a praia, para ouvir o barulho do vento e o canto das gaivotas.
Qual foi sua surpresa ao ver, sentada na areia, a mulher que primeiro lhe falara da ilha com seu templo
“O que faz aqui? “ perguntou. “Esperava você”, respondeu ela. Ele reparou que - embora já muitos anos se tivessem passado - a mulher ainda conservava a mesma aparência; o mesmo véu escondia seus cabelos, e não parecia desbotado pelo tempo.
Ela estendeu-lhe um caderno azul, com as folhas em branco.
“Escreve: um guerreiro da luz presta atenção nos olhos de uma criança. Porque elas sabem ver o mundo sem amargura. Quando ele deseja saber se a pessoa ao seu lado é digna de sua confiança, procura ver como uma criança a olha”.
“O que é um guerreiro da luz? “. “Você sabe”, respondeu ela, sorrindo. “É aquele que é capaz de entender o milagre da vida, lutar até o final por algo em que acredita, e - então - escutar os sinos que o mar faz tocar em seu leito”.
Ele jamais se julgara um guerreiro da luz. A mulher pareceu adivinhar seu pensamento.
“Todos são capazes disto. E ninguém se julga guerreiro da luz, embora todos sejam.”
Ele olhou as páginas do caderno. “Que tal se você resolvesse falar um pouco disso?” perguntou. “Eu poderia anotar suas palavras”.
A mulher sorriu de novo. “ Foi para isto que eu trouxe o caderno”, ela disse. “Escreve”.
Paulo Coelho
Assinar:
Postagens (Atom)