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quinta-feira, 21 de abril de 2011

GAWAIN E LADY RAGNELL

Um dia, o rei Artur estava caçando um grande veado branco nas cercanias
do bosque de carvalhos quando ergueu os olhos e se viu confrontado por um chefe guerreiro alto e forte, brandindo a espada e dando a impressão de que ia abater o rei ali mesmo. Este homem era Groiner, que disse estar querendo vingar-se pela perda de parte de suas terras ao norte para Artur. Como Artur estava desarmado, Sir Gromer demonstrou compaixão e deu ao rei uma chance de salvar sua vida.
Gromer lançou um desafio: o rei tinha um ano para voltar desarmado àquele
lugar com a resposta para a pergunta: O que as mulheres desejam acima de tudo?
Se Artur respondesse à pergunta corretamente, sua vida seria poupada; caso
contrário, sua cabeça seria cortada.
Artur concordou, mas se sentiu muito desanimado. Aquela pergunta devia
ser um enigma, ele pensou. Ele sabia que ninguém saberia a resposta. De volta ao castelo, Artur contou toda a história a seu sobrinho, Sir Gawain, que era considerado o mais sábio, o mais corajoso, o mais misericordioso e o mais educado de todos os Cavaleiros da Távola Redonda. O jovem cavaleiro, ao contrário do rei, mostrou-se esperançoso. Ele e Artur tinham um ano para percorrer o reino e ele tinha certeza de que encontrariam a resposta certa.
Quase um ano se passou e Artur e Gawain reuniram muitas respostas, mas
nenhuma soava verdadeira. O dia marcado estava se aproximando, e numa manhã
Artur saiu cavalgando sozinho no meio das urzes roxas e dos tojos dourados,
totalmente absorto em seus problemas. Ao aproximar-se do bosque de carvalhos,viu-se subitamente diante de uma mulher grande e grotesca, coberta de verrugas e quase tão larga quanto alta.
Os olhos dela o contemplaram destemidamente e ela declarou:
— O senhor é Artur, o rei, e dentro de dois dias terá que se encontrar com
Sir Gromer com uma resposta para uma pergunta.
— É verdade — respondeu Artur hesitante —, mas como é que sabe disso?
— Eu sou Lady Ragnell e Sir Gromer é meu meio-irmão. O senhor não sabe
a resposta certa, sabe?
— Tenho muitas respostas, e não sei o que a senhora tem a ver com isto —
respondeu Artur, puxando as rédeas para se virar e voltar para casa.
— O senhor não sabe a resposta certa — disse Ragnell com uma confiança
que deixou Artur desanimado. — Eu tenho a resposta.
Artur virou-se e saltou do cavalo.
— Diga-me a resposta e eu lhe darei um saco cheio de ouro.
— Não preciso de seu ouro - respondeu Ragnell calmamente.
De.sejímòo ser — Bobagem, mulher, você poderá comprar o que quiser com ele! O que você quer, então? Jóias? Terras? O que quiser eu pagarei. Isto é, se você souber a resposta certa.
— Eu sei a resposta. Isto eu posso garantir — respondeu Ragnell. Após uma
pequena pausa, ela acrescentou: — Em troca, exijo que Sir Gawain se torne meu marido.
Artur abriu a boca de espanto.
— Impossível! — gritou. — Você pede o impossível, mulher. Eu não posso
dar-lhe o meu sobrinho. Ele é dono de si mesmo, não pertence a mim para que eu o dê.
— Eu não pedi ao senhor que me desse o cavaleiro Gawain. Se Gawain
concordar em se casar comigo por livre e espontânea vontade, então eu lhe direi a resposta. São estas as minhas condições.
— Condições! Que direito você tem de estabelecer condições para mimi É
impossível! Eu jamais poderia apresentar esta proposta para ele.
Ragnell ficou olhando calmamente para o rei e disse apenas:
— Se mudar de idéia, estarei aqui amanhã. — E desapareceu no bosque.
Abalado com aquele estranho encontro, Artur cavalgou lentamente de volta
para casa pensando consigo mesmo que jamais poderia falar daquele assunto com Gawain. Aquela mulher repugnante! Como ousava pedir para se casar com o
melhor dos cavaleiros! Mas o ar da tarde estava ameno e o encontro fatídico com
Gromer deixou Artur impressionado. Ao retornar ao castelo, Artur viu-se
contando ao sobrinho sobre sua aventura, e concluiu:
— Ela sabe a resposta, eu tenho certeza disso, mas eu não pretendia contar
nada a você.
Gawain sorriu docemente, sem saber ainda qual era a proposta de Ragnell.
— Mas esta é uma boa notícia, tio. Por que o senhor está tão desanimado?
Evitando encarar o sobrinho, o rei contou qual era a exigência de Ragnell,
junto com uma descrição detalhada de seu rosto grotesco, de sua pele cheia de verrugas e seu tamanho avantajado.
— Que bom que eu posso salvar a sua vida! — respondeu Gawain
imediatamente. Sem dar ouvidos aos protestos do tio, Gawain declarou: — É
minha escolha e minha decisão. Vou voltar lá com o senhor amanhã e concordar com o casamento, desde que a resposta dela salve a sua vida.
Bem cedo na manhã seguinte Gawain saiu a cavalo com Artur para
encontrar Lady Ragnell. Mesmo vendo-a cara a cara, Gawain manteve-se
inabalável em sua decisão. A proposta dela foi aceita e Gawain fez uma reverência graciosa para ela.
— Se amanhã a sua resposta salvar a vida do rei, nós nos casaremos.
Na manhã fatídica, Gawain cavalgou até metade do caminho com Artur,
que assegurou ao cavaleiro que iria tentar todas as outras respostas primeiro.
O guerreiro alto e forte estava esperando por Artur, com sua espada
brilhando ao sol. À medida que Artur ia recitando uma resposta depois da outra,Gromer gritava:
— Não! Não! Não! — até que finalmente ele ergueu a espada acima da
cabeça.
— Espere! — gritou o rei. — Eu tenho mais uma resposta. O que uma
mulher deseja acima de tudo é o poder de soberania, o direito de exercer o seu livre-arbítrio.
Com uma imprecação de raiva, Gromer jogou a espada no chão.
— Você não descobriu a resposta sozinho! Minha maldita meia-irmã foi
quem lhe contou! Vou decepar a cabeça dela. Vou atravessá-la com a minha
espada! — Virou-se e voltou para a floresta, deixando uma torrente de
imprecações atrás de si.
Artur voltou para o local onde Gawain esperava junto de Lady Ragnell. Os
três cavalgaram de volta para o castelo em silêncio. Só Ragnell parecia bemhumorada.
A notícia de que iria ocorrer um estranho casamento entre uma megera
horrorosa e o magnífico Gawain espalhou-se rapidamente pelo castelo. Ninguém
conseguia imaginar o que havia convencido Gawain a se casar com aquela criatura.
Alguns achavam que ela devia possuir grandes terras e propriedades. Outros
acreditavam que ela devia ter usado alguma magia secreta. A maioria estava
simplesmente estarrecida com o destino do pobre Gawain.
O rei Artur falou reservadamente com o sobrinho.
— Nós poderíamos propor um adiamento — disse ele.
— Dei a ela a minha palavra, tio. O senhor gostaria que eu quebrasse uma
promessa? — respondeu Gawain.
Assim, o casamento aconteceu na abadia, e a estranha festa de casamento
foi assistida por toda a corte. Durante todo aquele longo dia e aquela longa noite, Gawain permaneceu simpático e cortês. Não demonstrou nada além de uma atenção gentil para com a sua noiva.
Finalmente, o casal se retirou para os seus aposentos.
— Você se manteve fiel à sua promessa — observou Ragnell. —Você não
demonstrou nem piedade nem repulsa para comigo. Agora que estamos casados,
venha beijar-me.
Gawain se aproximou imediatamente dela e a beijou. Quando se afastou,
viu diante de si uma linda e serena mulher, de olhos cinzentos e rosto sorridente.
Seus cabelos se eriçaram com o choque, e ele deu um pulo para trás.
— Que espécie de feitiçaria é esta? Ragnell respondeu:
— Você me prefere assim? — lentamente deu uma volta em torno dele.
— É claro que sim, mas não compreendo — gaguejou Gawain, confuso e
assustado.
— Meu meio-irmão, Gromer, sempre me detestou. Ele aprendeu truques de
feitiçaria com a mãe dele e usou-os para me transformar numa megera horrorosa.
Ordenou que eu vivesse com este corpo até que o melhor cavaleiro da Bretanha me escolhesse como esposa.
— Mas por que ele a odiava tanto? - perguntou Gawain. Com um sorriso
nos lábios, Ragnell respondeu:
— Ele me achava atrevida e pouco feminina, porque eu me recusava a
aceitar as ordens dele, tanto em relação à minha propriedade quanto à minha
pessoa.
Com grande admiração, Gawain disse:
— Então você conseguiu o impossível e o feitiço dele foi quebrado!
— Só em parte, meu querido Gawain. — Ela o encarou com firmeza. —
Você pode escolher como eu vou ser. Você quer que eu fique assim, com o meu
próprio corpo, à noite em nosso quarto? Ou me quer grotesca à noite no nosso quarto e com o meu próprio corpo de dia no castelo? Bonita de dia ou bonita à noite, pense bem antes de responder.
Gawain ajoelhou-se diante da noiva e respondeu imediatamente.
— Esta é uma escolha que eu não posso fazer. Diz respeito a você, minha
querida Ragnell, e só você pode escolher. O que quer que você escolha, eu a
apoiarei.
Ragnell soltou um longo suspiro. A alegria em seu rosto deixou-o
encantado.
— Você respondeu bem, meu querido Gawain. Sua resposta quebrou
completamente o feitiço de Gromer. A última condição que ele impôs foi que,
depois do casamento, o maior dos cavaleiros da Bretanha, meu marido, deveria dar-me o poder do exercício da soberania, o direito de exercer o meu livrearbítrio.
Só então o terrível feitiço seria quebrado para sempre.
E assim, com muito encantamento e alegria, começou o casamento de Sir
Gawain e Lady Ragnell.

texto retirado do livro : MULHERES QUE CORREM COM LOBOS - CLARISSA PINKOLA ESTÉS

sábado, 2 de abril de 2011

A Lição da Borboleta


Um dia, uma pequena abertura apareceu em um casulo e um homem sentou e observou a borboleta por várias horas enquanto ela se esforçava para fazer com que seu corpo passasse através daquele pequeno buraco.
Então pareceu que ela parou de fazer qualquer progresso. Parecia que ela tinha ido o mais longe que podia, e não conseguia ir mais longe.
Então o homem decidiu ajudar a borboleta, ele pegou uma tesoura e cortou o restante do casulo. A borboleta então saiu facilmente. Mas seu corpo estava murcho e era pequeno e tinha as asas amassadas. O homem continuou a observar a borboleta porque ele esperava que, a qualquer momento, as asas dela se abrissem e esticassem para serem capazes de suportar o corpo, que iria se afirmar a tempo.
Nada aconteceu. Na verdade, a borboleta passou o resto da sua vida rastejando com um corpo murcho e asas encolhidas. Ela nunca foi capaz de voar.
O que o homem, em sua gentileza e vontade de ajudar, não compreendia era que o casulo apertado e o esforço necessário à borboleta para passar através da pequena abertura era o modo com que Deus fazia com que o fluido do corpo da borboleta fosse para as suas asas de modo que ela estaria pronta para voar uma vez que estivesse livre do casulo.
Algumas vezes, o esforço é justamente o que precisamos em nossa vida. Se Deus nos permitisse passar através de nossas vidas sem quaisquer obstáculos, ele nos deixaria aleijados.
Nós não iríamos ser tão fortes como poderíamos ter sido. Nós nunca poderíamos voar...

(autor desconhecido)

MILHO DE PIPOCA

"Milho de pipoca que não passa pelo fogo Continua a ser milho para sempre."

Assim acontece com a gente.
As grandes transformações acontecem Quando passamos pelo fogo.

Quem não passa pelo fogo, fica do
Mesmo jeito a vida inteira.
São pessoas de uma mesmice e uma Dureza assombrosa.
Só que elas não percebem e acham que
Seu jeito de ser é o melhor jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo.

O fogo é quando a vida nos lança numa Situação que nunca imaginamos: a dor.

Pode ser fogo de fora:
Perder um amor, perder um filho, o pai, a Mãe, perder o emprego ou ficar pobre.

Pode ser fogo de dentro:
Pânico, medo, ansiedade, depressão ou Sofrimento, cujas causas ignoramos.

Há sempre o recurso do remédio:
Apagar o fogo! Sem fogo o sofrimento Diminui. Com isso, a possibilidade da Grande transformação também.

Imagino que a pobre pipoca, fechada Dentro da panela, lá dentro cada vez
Mais quente, pensa que sua hora chegou: Vai morrer. Dentro de sua casca dura, Fechada em si mesma, ela não pode Imaginar um destino diferente para si.

Não pode imaginar a transformação que Está sendo preparada para ela.
A Pipoca não imagina aquilo de que ela é Capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder
Do fogo a grande transformação acontece:
BUM!

E ela aparece como uma outra coisa Completamente diferente, algo que ela Mesma nunca havia sonhado.
Bom, mas ainda temos o piruá, que é o Milho de Pipoca que se recusa a estourar.

São como aquelas pessoas que, por mais Que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir
Coisa mais maravilhosa do que o jeito Delas serem.
A presunção e o medo são a dura casca do milho que não estoura.
No entanto, o destino delas é triste, já
Que ficarão duras a vida Inteira.
Não vão se transformar na flor branca, Macia e nutritiva.
Não vão Dar alegria para ninguém.

(Extraído do livro: O Amor que Acende a Lua de Rubem Alves.)